sábado, 22 de dezembro de 2012

...o quê


Cacida da Rosa

A rosa
não buscava a aurora:
quase eterna no ramo,
buscava outra coisa.

A rosa não buscava ciência nem sombra:
confim de carne e sonho,
buscava outra coisa.

A rosa
não buscava a rosa.
Imóvel pelo céu,
buscava outra coisa.

Federico Garcia Lorca

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

cafeína


escrever antigamente


encontrei, nesta bonita colecção, A Túlipa Negra de Alexandre Dumas. à época, tomando Dumas como exemplo, escrever era uma arte de elegante intensidade. ou então... sou eu que evoco desde logo os cavaleiros de capa e espada. mas já pouco é como antigamente. por isso mesmo, assim como é boa a hora do regresso ao que amamos, também é um prazer especial voltar a estas leituras de outrora. em literatura pouco é já como antes. e ainda bem. quanto às intrigas próprias da humanidade: essas: motivação e estrutura em tudo semelhantes.

começa assim:

No dia 20 de Agosto de 1672, a cidade da Haia, tão viva, tão branca, tão graciosa, que dir-se-ia todos os dias serem domingos, a cidade da Haia com o seu parque umbroso, com as grandes árvores inclinadas sobre as casas góticas, com os largos espelhos dos canais em que se refletem os campanários de cúpulas quase orientais: a cidade da Haia, a capital das Sete Províncias Unidas, inchava todas as artérias com uma onda negra e vermelha de cidadãos apressados, ofegantes, inquietos - que corriam com a faca à cinta,  o mosquete ao ombro ou o pau na mão para o Buytenhof, formidável prisão cujas janelas de grades ainda hoje se veem e onde, depois da acusação de assassínio lançada contra ele pelo cirurgião Tyckelaer, definhava Corneille de Witt, irmão do ex-grande pensionista da Holanda.
Alexandre Dumas, A Túlipa Negra

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

o tempo está invernoso

ah o chazinho e as torradas nas noites de inverno fazem parte do sentido da vida. isso enquanto os destinos - nossos - se jogam nas mãos daqueles que nos fazem ver dia após dia que o tal véu de Maya assinalado por Nietzsche n' A Origem da Tragédia nunca será realmente levantado. pois nunca saberemos o que andam realmente a fazer. esses tais. tão seguros de si. parece. de poder nas mãos. mas se soubermos não vamos entender e se entendermos não poderemos aceitar ou legitimar. ficaremos na semi-obscuridade. que é o lugar onde ficam os que exigem a impossibilidade das verdades claras. e até podia parecer tudo bem. uma espécie de inevitabilidade interiorizada. mas um dia o chazinho e as torradas vão acabar. até já não constam da vida de inúmeros. companheiros nossos. de existência. qualquer sentido vive nesse lugar de semi-trevas. o de não compreender inteiramente isto. e pior. o de não poder resolvê-lo.
deve ser por isso que me interessa saber mais sobre as estepes longínquas. para encontrar melhor a devastação. de um país que não é estepe. apenas planície além ou aqui. e no entanto árido por dentro. sem horizonte por fora. ignora. e desconhece a beleza do deserto. longe das coisas essenciais. as luzes falham no palco. mas a peça continua: maus dramaturgos. e um gole de chá ainda quente. chegaremos ao tempo sim. do oxigénio privatizado. 

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

da estante antiga


Não descubro no meu íntimo, outro tesoiro além da chave que, desde a hora em que te conheci, me tem aberto esta planície infinda, este prado feito da repetição de uma única planta, sempre mais alta, cujo pêndulo, de amplitude cada vez maior, há-de acompanhar-me até à morte. A morte, cujo relógio feito de flores campestres, relógio belo como a minha pedra sepulcral erguida ao alto, voltará a andar, na ponta dos pés, para cantar as horas que não passam. Porque é a vez de uma mulher e de um homem, que até ao fim dos séculos serão, fatalmente, tu e eu, perpassarem, sem uma única vez se virarem para trás, no seio da oblíqua claridade, até perder de vista, até aos confins da vida e do esquecimento da vida, por entre a erva fina que à nossa frente corre para a arborescência. E essa erva dentada é feita dos mil e um elos invisíveis que na profunda noite do esquecimento calharam ligar ao meu o teu sistema nervoso.
André Breton, O Amor Louco

em tempos, com este livro na mão, queria gostar dele e não conseguia. cheguei a achá-lo uma parvoíce completa, pois não lhe encontrava sentido algum.
entretanto, a acção do tempo diz-me, cada vez mais, que o único caminho de uma existência com sentido, deve encontrar-se algures por aqui... mas isto é porque o tempo já esculpiu em mim o suficiente para que eu me entregue verdadeiramente à preocupação de encontrar um sentido para a vida. claro que isto pode também ser dito de modo curto e objectivo: o tempo já passou por mim. e parece-me bem.

post à FB

...porque não tenho, por ora, muito mais a assinalar:

costuma dizer-se: "a conversa ficou redonda". pois eu sinto que "este país ficou redondíssimo".

Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...