quinta-feira, 24 de junho de 2010

Imagem, filosofia e música

(olhar)



«É possível que a amizade seja alimentada pela observação e pela conversação, mas, quanto ao amor, ele surge e é alimentado pela interpretação silenciosa... O ser amado exprime um mundo possível que nos é desconhecido... e que precisa de ser decifrado.»
Gilles Deleuze, Proust e os Símbolos

(ler)




(escutar)


(olhar-ler-escutar: pensar)




Imagem: Robert Longo, Untitled (Ophelia #3) - 2004

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Um pequeno inquérito com um selo


Tenho a agradecer este selo atribuído ao Catharsis pela autora do OBVIÁRIO (via). Muito obrigada, minha amiga! Sobretudo pela lealdade implícita.
Receber este selo implica também responder a algumas poucas perguntas. Portanto, aqui estão as minhas respostas às mesmas, de acordo com o que segue:


- Porque é que criou um blogue e, quando o criou, tinha expectativas de que fosse popular?

- Nunca tive expectativas de popularidade. O blogue começou, para mim, como uma brincadeira e como resposta a um desafio. Alguém disse: "- Se queres escrever, faz um blogue." E mais qualquer coisa como: "... serás capaz?". Bom, eu lá decidi perder algum tempo com o assunto. Claro que depois perdi muito mais e gostei de o perder. Fui capaz de o fazer. De lá para cá, depois de já saber que era capaz de o fazer, pensei muitas vezes na razão de o continuar. Um blogue é sobretudo para comunicar. Pela interacção que estabelecemos com os outros, não só os conhecemos melhor, como aprofundamos o nosso auto-conhecimento. Por outro lado, isto é também um excelente exercício regular da escrita. Mas é, igualmente, e sobretudo, um espelho da nossa vida, na medida em que ela é sempre uma vida com os outros. Por isso obriga a gerir uma série de coisas que não cabe aqui dizer, agora. Até porque nunca estão ditas, vão-se dizendo... Mas é importante repetir, porque nunca é demais, que estou muito grata a todos os que lêem o que aqui escrevo. Obrigada.

- Em que data iniciou o blogue?
- Infelizmente, sou muito distraída para datas. Sinceramente, não sei bem, teria que ir ver para trás, até à primeira mensagem. Mas, julgo não estar em erro dizendo que foi em Fevereiro de há dois anos atrás. Antes deste, tinha o Música do Acaso que o Catharsis veio substituir (e mantive o M.A. durante cerca de um ano...). A propósito, e à laia de curiosidade, na altura em que criei este blogue, andava um pouco mergulhada na psicanálise de Freud. Tudo porque queria encontrar um modo simples de explicar o método psicanalítico aos meus alunos. Nessa altura, aparecendo num texto o termo catharsis, uma aluna começou a falar de uma banda musical de uns amigos chamada precisamente Catharsis. Durante muitas semanas, a conversa ia sempre parar a este termo, e fui convidada a ouvir a música dos ditos Catharsis. Nada mais natural do que, quando quis criar um novo blogue (o que aconteceu na mesma altura), parecer-me adequado dar-lhe este nome - por esta razão e, provavelmente, por uma série de outras inconscientes :)

- Nomeie cinco seguidores leais.

- A lealdade é algo muito importante. E sério. Atribuir lealdades pode gerar compromissos que não quero impôr a ninguém, ainda que julgue saber delas. Sei que vou subverter um bocadinho a resposta a esta questão, mas utilizarei, para este efeito, o critério dos seguidores. A todos eles este selo. E o meu muito obrigada!


sábado, 19 de junho de 2010

Memória

«Foi só muitos anos depois, quando o meu avô já se tinha ido deste mundo e eu era um homem feito, que vim a compreender que a avó, afinal, também acreditava em sonhos. Outra coisa não poderia significar que, estando ela sentada, uma noite, à porta da sua pobre casa, onde então vivia sozinha, a olhar as estrelas maiores e menores por cima da sua cabeça, tivesse dito estas palavras: "O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer." Não disse medo de morrer, disse pena de morrer, como se a vida de pesado e contínuo trabalho que tinha sido a sua estivesse, naquele momento quase final, a receber a graça de uma suprema e derradeira despedida, a consolação da beleza revelada.»
José Saramago, Discursos de Estocolmo - 7 e 10 de Dezembro de 1998




Imagem: pesquisa do Google

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O olhar não engana (?)

Há muitas coisas que enganam mas um olhar não. Ou sim? Às tantas também engana. Ou não? Pode dizer-se a verdade apenas com os nossos olhos? É capaz de ser uma verdade muito subjectiva... Por outro lado, talvez não. Pode dar-se o caso de ser a mais objectiva possível, clara, evidente, esclarecedora - a verdade do olhar. Bom, mas continuo a duvidar desta luz secreta do olhar que ilumina a verdade. Mas, são tantas as vezes que um olhar não engana... É preciso levar também em conta que há olhos e "olhos"... Acontece os olhares serem muito ambíguos. Se calhar, é preciso apostar neles. Apostar a solução de um crime por desvendar. Apostar uma vida que ficou para trás. Apostar tudo - apostar a justiça, apostar a memória, apostar as fixações e as obsessões, as crenças e os desejos. Afinal, o olhar não engana. Não engana mesmo. Nem as paixões. Podemos deixar tudo de lado, menos as paixões. E elas entrelaçam-se com o olhar que as revela. Ou não? Continuar a perguntar sem resposta última, é uma opção. Mas eu aposto na verdade do olhar. Sobretudo porque gosto de policiais com solução.

Tudo isto a propósito desta excelente história -  AQUI


sexta-feira, 11 de junho de 2010

Ser ou não ser


«Mas que significa para uma vida pôr-se - ou ser posta - em jogo? (...)
Ética não é a vida que, simplesmente, se submete à lei moral mas, sim, aquela que aceita pôr-se em jogo nos seus gestos, irrevogavelmente e sem reservas. Mesmo correndo o risco de que, de certo modo, a sua felicidade e a sua desventura sejam decididas de uma vez por todas.»
Giorgio Agamben, Profanações



Imagem: Tilda Swinton em The Last of England de Derek Jarman 
(pesquisa do Google)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Dia-a-dia

Houve quem antecipasse o declínio da rádio, considerando o impacto da televisão. Pois eu cada vez gosto mais de ouvir. Nem tudo se com os olhos. Ser ouvinte dos meus programas preferidos é um prazer, e até um vício (do ruído, da companhia), do meu dia-a-dia.





Marc Moulin

sexta-feira, 4 de junho de 2010

"Io sono l'amore"


"Io sono l'amore" (2009), de Luca Guadagnino, é um filme pautado pelo regresso a grandes cineastas italianos, com uma estética muito clássica, mas desprendendo-se da magnífica herança de Visconti ou de Fellini, através de um olhar renovado e experimental. De todas as imagens gravadas na minha memória, destaco aquelas das cenas passadas na sala de jantar, à mesa, durante as refeições: estranhas, fantásticas, inesperadas.
Gostei imenso do filme, embora possa apontar-lhe alguns defeitos (o final pareceu-me excessivamente precipitado, por ex.). A primeira sensação é a de que estamos perante um cinema realmente diferente daquele que nos bombardeia diariamente. Só por isso já vale a pena - o que nos aparece no ecrã consegue alargar os horizontes do nosso próprio olhar. Depois, há uma história que podia ser banal, transformada num melodrama de dimensão operática. Para isso muito contribui a música de John Adams. O desenlace final, quer no seu ponto mais alto, quer no pós-clímax, alimenta-se desta sonoridade angustiante, mais tarde sussurrante. Mas tudo começa muito antes - com o prazer de comer, com o requinte da apresentação dos pratos, com os estranhos e improváveis condimentos, com as receitas italianas e russas... Tudo temperado com muitas ambiguidades.



Na improbabilidade da história reside grande parte da sua riqueza emocional. É pela energia vital, esse movimento do ser que introduz rupturas e descontinuidades, que o amor nos é apresentado. Afinal, é o que pode ser um olhar sobre a vida - subjaz ao filme um toque de Nietzsche que nos faz pensar... Lá do alto das montanhas, Emma constata  que as perspectivas são outras.
Se o amor pode ser considerado um tema menor (?), o que o filme faz é dar-lhe grandiosidade. Afinal, a história podia ser um dos enredos mais vulgares de telenovela. Mas, eis que é drama intenso e apoteose do ser.
São várias as vezes em que o filme resvala para esse paradigma actual (ainda que não só de hoje) da fusão com a natureza - o corpo mal se distingue, pulsante e incorporado na vegetação, devorado já pelas grutas e suas sombras... Mas é preciso referir também as belas imagens de Itália. E, por último, mas não menos importante para o olhar, os vestidos magníficos de Tilda Swinton, numa excelente interpretação.
O filme consegue ser sublime.



Imagens: pesquisa do Google

Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...