domingo, 24 de fevereiro de 2008

Aletheia


Talvez do tempo cronológico e metereológico. Talvez da necessidade de renovação. Talvez da reflexão, inquietação, reparação e recuperação. Talvez de nada. Talvez de tudo.
Ocupada na visualização dos simulacros que fazem o mundo. E querendo ver para lá deles. Afastar a cortina ou o véu que encobre a realidade. E olhar a verdade.

Para os antigos gregos, a verdade ou aletheia estava sempre oculta. Todo o trabalho humano consistia em desocultá-la ou desvelá-la. A sua perspectiva acompanha-me... Consigo começar a ver... primeiro os contornos vagos e indefinidos... Depois, muito claros. Muito claros e precisos. Obrigada, Grécia Antiga.

Não posso dizer o que vejo. O problema do discurso também se coloca. Mais do que ele, o do pensamento. A formação do conceito, o âmbito da definição, a validade do raciocínio. Tudo converge para abandonar a dificuldade inerente. Restam as ilusões.

Quando se afasta a cortina, o véu da ilusão... o qual até desejamos que nos coloquem à frente... vê-se algo... O que vejo. Teme-se que não seja o mesmo que outros vêem ou poderiam ver.
Para que a visão fosse uma única, seria necessário fazer deste processo uma ciência.
Infelizmente, tenho pouco tempo para a ciência. Mas era esta a ambição dos antigos gregos. E a minha. Dado que a alternativa é o caos, suponho que se trata de uma nobre ambição. Será esta, no fundo, a história do mundo. Abreviada, é claro.

Pode a verdade ser caótica e bem mais ambiciosa. E a história do mundo, um outro mundo.





Imagem: Butterfly de Mark Grotjahn


sábado, 16 de fevereiro de 2008

Música ontem-música hoje

A Manhã - do blogue SAXE - fez-me um desafio: as músicas da minha juventude.
De ontem e de hoje, claro!

Para ela e para todos, aqui fica a minha resposta, com muita MÚSICA!!!

SUPERTRAMP - Crime of the Century e tudo o resto

PINK FLOYD - The Dark Side of the Moon

The Doors - Morrison Hotel

Led Zeppelin



QUEEN - A Night at the Opera

Sérgio Godinho - De pequenino se torce o destino

Genesis - The Lamb Lies Down on Broadway



JETHRO TULL - Songs from the Wood e tudo o resto

ELIS REGINA - Elis

e muitos outros(as) que ficam por citar...


Deixo ficar o mesmo desafio a todos os que por aqui passarem e queiram dar-lhe resposta...


terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Épocas

Nas minhas deambulações em busca de fotografias que tenham o condão de me interessarem ainda mais por esta arte em especial... (muitas tenho descoberto), encontrei esta que me fascinou verdadeiramente pelo seu carácter de um sincretismo excepcional (de acordo com a minha leitura). Para além dos aspectos especificamente técnicos que não são do meu domínio, encontrei nela, pelo que referi e muito mais ainda... essa pedra de toque que parece fazer toda a diferença quando se trata de arte.





A fotografia é de Dorothea Lange, 1938 e tem como título End of an Era.

Mas vale a pena considerar também o título completo: Funeral Cortege - End of an Era in a Small Valley Town
Olhando-a... não pude deixar de pensar e de me questionar acerca de tudo aquilo que pode marcar o fim ou mesmo o início de uma época... Se serão sobretudo marcos negativos, embora também existam positivos... Se o fim de épocas consiste em progresso ou em retrocesso....

Uma fotografia de mestre(a)!

Recolhida aqui

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

O "Eclipse" do Mundo Real



Ainda conseguiremos, hoje, "ver" o mundo real?

Ainda o queremos "ver"?

Será que ainda existe?

E porquê a Terra do Nunca?

A Terra do Nunca é aquele lugar mítico onde se encontra um rapaz que não quer crescer, ou melhor, que não quer deixar de ser criança. De acordo com a história de J. M. Barrie, esse rapaz era Peter Pan.


O Nunca pode ser apenas uma ficção porque é bem possível que nada possa ser alguma vez um nunca. Tudo é efémero e circunstancial. A própria morte pode não ser, igualmente, um nunca (mais...). Face ao desconhecido que encerra para nós, não o podemos saber.

Se existe um Nunca ou uma Terra do Nunca, só pode ser na nossa imaginação. E nisso, as crianças são sempre prodigiosas. Regressar um pouco (ou muito) à nossa imaginação de infância, não deixar morrer a criança que ainda possa existir em nós... é esse o sentido de toda a possível alusão a um lugar assim, onde possa encontrar-se um Peter Pan, uma Wendy ou uma Sininho e, claro, um Capitão Gancho.



Porque as crianças podem ser sempre o começo de algo genuíno e espontâneo... Num tempo onde se acredita e onde se projecta sem demasiada desilusão... Vale a pena imaginar a Terra do Nunca, viajar até lá num pequeno espaço onde se encontre o reflexo de tudo o que admiramos e que, por isso, faz viver a nossa sensibilidade.

Ser criança é ter o direito e a possibilidade de acreditar. Mesmo quando há pouco em que acreditar.


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Expiação

Gostei deste filme que consegue ter uma atmosfera oscilante entre um olhar íntimo com belas pinceladas românticas e uma projecção quase épica do enredo. No entanto, o final remete para um anti-romantismo, implícito no desfecho real da história.

Muito pode ser dito sobre estas cerca de duas horas de emoção com uma muito bela sucessão de imagens. Assinalo apenas os aspectos que me pareceram mais interessantes:

- O cenário de devastação resultante da guerra que contextualiza o filme. Pareceu-me recriado de forma magnífica e original. Chega a ser surpreendente de tão real e, ao mesmo tempo, estranhamente surreal. Vale a pena ver o filme, no mínimo para conhecer estas cenas e o resultado do trabalho de recriação de um momento crítico para as tropas britânicas, no decurso da II Guerra Mundial: na praia de Dunkirk (1940) encontram-se cerca de 300.000 soldados à espera de serem evacuados (as cenas foram filmadas em Redcar, Northumberland). Tudo à volta, homens incluídos, mostra a destruição e os horrores da guerra. Vive-se o caos.





- A Keira Knightley surge lindíssima e oferece-nos uma representação brilhante em muitos aspectos. Mas o James McAvoy está igualmente muitíssimo bem e vale a pena admirá-lo.



- Finalmente, o final do filme traz à tona uma série de questões subjacentes ao enredo e que possuem grande densidade dramática. A questão da culpa e a questão religiosa, por exemplo.
Uma escritora (personagem importante da história e muito bem representada, sobretudo por Saoirse Ronan), a qual despoletou, ainda muito jovem, o desenrolar trágico da sua vida e da dos que lhe eram próximos, assume-se como aquela que pode alterar a realidade pela escrita. E, neste sentido, ela seria Deus pelo poder que possui de recriar esse real. A fronteira entre ficção e realidade, assim esbatida e indefinida, coloca-nos perante um processo de expiação muito singular e pessoal, via "palavra escrita".

Mas, na verdade, esta mulher entregue a si mesma, supostamente minada pelo peso da culpa, expia ou redime-se do seu acto anterior? Não. O que mais parece ser a sua suposta expiação é um logro, pelo qual ela continua a querer controlar o curso dos acontecimentos e a vida dos outros. Desuniu dois seres que se amavam, antes, na vida real. Agora, une-os, contrariando a realidade, na sua ficção. Foi sempre ela que decidiu.



Por outro lado, remete-nos este the end para o próprio romance de Ian McEwan (escritor que afirma ter sido D.H. Lawrence um dos seus inspiradores), do qual Expiação (ou Atonement, realizado por Joe Wright) é a adaptação ao cinema. Quer dizer, a posição religiosa do autor é a do ateísmo. E se há Deus, ele é escritor. Acima dele não há mais nada. O escritor vê-se entregue a si mesmo, com este poder "entre mãos". E tem que escolher o que fazer com tal. Inquietantes afirmações e constatações...

Sim, este é um bom escritor e merece ser lido com atenção. Vale a pena confrontar o escritor e o livro com a visão do realizador Joe Wright. Perspectivas distintas, certamente.
Vale a pena também tomar nota de algumas das posições de McEwan.

Integração-Aglutinação

Com este blogue pretendo obter a aglutinação necessária das temáticas que são do meu interesse. Elas encontram-se subdivididas nos blogues que criei até à data. Por falta de tempo para me dedicar a todos como gostaria, inicio este novo projecto como tentativa de ser mais abrangente. É uma ideia unificadora e integradora dos meus interesses.

Deixo ficar as boas-vindas a todos os que por aqui passarem.

Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...