terça-feira, 30 de setembro de 2008

Fantasia




A noite era estrelada. Ao fundo, a lua lembrava a imensidão do universo. E todos ali festejavam a vida. Devagarinho, Peter Pan disse à Wendy: «A tal história...Queres ouvi-la agora?» E ela respondeu sorrindo: «Claro! É o melhor momento. Mas chama primeiro a Sininho.»
A noite brilhava, eles brilhavam, mas os olhos curiosos conseguiam brilhar muito mais ainda.

Peter Pan começou: «Era uma vez...»

"Era uma vez..." Quer dizer, «a vida é bela!»



Imagem: pesquisa do Google


domingo, 28 de setembro de 2008

Ilusão


Ilusões. Precisam-se (?)


«A grande dificuldade que se coloca é que não basta viver exactamente segundo a norma. De facto, consegue-se até (ora com justiça, uma justiça extrema, dentro do possível ) viver mediante as regras. As contribuições em dia. As facturas pagas a tempo. Nunca andar sem bilhete de identidade (e a pochette de estimação para os cartões de crédito!...)
Contudo, não se cultivam amizades.»
in Extensão do Domínio da Luta, Michel Houellebecq

Este é um escritor polémico e provocante. Uma espécie de escritor maldito do nosso tempo. Não concordo com a sua visão por inteiro. Mas acho-o genial em diversos aspectos. Um deles é o que se prende com a sua capacidade de expor sem hipocrisias alguns dos traços fundamentais da nossa época.

A sua mais recente publicação aqui

O seu recente filme (não muito bem recebido pela crítica) aqui

Quanto às ilusões... são parte de um tema pelo qual me interesso cada vez mais ultimamente: "realidade e verdade". Não sei , rigorosamente, se são positivas ou negativas, até ver... Mas sei que parece difícil (e mesmo impossível) viver sem elas. Se assim não fosse, como se cultivariam amores e amizades?! Como seria possível seguir sempre em frente?! A não ser que se prossiga apenas em resultado de uma luta pela sobrevivência.



Imagem: pesquisa do Google


domingo, 21 de setembro de 2008

Asas de borboleta


Já lá vai o tempo em que julgava poder mudar o mundo. Quando tudo à volta parecia esperar apenas a vontade de melhorar, e de tudo aperfeiçoar. Então, era possível subir e, lá do alto, olhar à volta para avaliar positivamente a beleza e a dignidade do ser humano: a sua força, a sua energia, a sua vontade, e a sua capacidade para transformar o mundo. Face a essa posição elevada, e sentida como privilegiada, as coisas conseguiam reflectir-se numa "aura" algo romântica. Surgiam até como magníficas e gloriosas.

Sei hoje que o mundo muda pouco no que precisa de mudar. Mas também sei que, apesar de tudo, muda sempre alguma coisa. Não é estático. Mas é triste, cinzento e oportunista, vezes demasiadas. Selvático, desumano e decepcionante, outras tantas. Apesar disso, é também aquele mundo onde ainda podemos afirmar: "A vida é bela".
Agora, olhar à volta traz muitas vezes consigo uma outra avaliação, esta bem mais realista. Dirão alguns: desencantada (?). Afinal, o que é o desencanto? Um olhar crítico e imperturbável? Um olhar duro e incisivo, em detrimento de um qualquer escapismo fácil?
Alguns tópicos para o desencanto:
- As guerras, a fome e a injustiça social;
- A crise financeira, a falência do Lehman Brothers e a corrupção que existe um pouco por todo o mundo;
- As eleições norte-americanas; a esperança, quase última, de uma reconfiguração de poderes, para uma nova ordem mundial;
- A violência, o terrorismo e a insegurança dos cidadãos;
- A hipocrisia social;
- O crescente niilismo;
- As inúmeras vezes que os outros nos decepcionam e, pior do que isso, a própria decepção de si;
- A vontade de poder, em resultado da qual se trituram valores, princípios e solidariedades;
- E tantas coisas mais...

Às vezes, o que apetece mesmo é um grande grito de revolta!
Mas... enquanto continuar a chover (ainda que com alguma acidez); enquanto for possível descobrir, ali mesmo no meio do nada, um bater de asas de borboleta, continuo a acreditar. Porque é possível mudar. Embora muito pouco, embora lentamente... Embora seja muito mais difícil do que antes parecia ser. Porque também é um esforço árduo continuar a acreditar... acreditando.

Bullet With Butterfly Wings - Smashing Pumpkins

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Instinto maternal



Foi por estes dias últimos que tive notícias de uma amiga, da qual não sabia nada há bastante tempo.
Soube que se encontra algures no Nepal. Claro que fiquei surpreendida. Mas a surpresa foi ainda maior ao saber do motivo que a tinha levado para tão longínquas paragens: acompanhar a filha. Através da faculdade e no curso de Economia (em fase de conclusão), participando de um programa qualquer do tipo Erasmus, eis que tem a possibilidade de deslocar-se à Índia, numa estadia de um mês. Soube há tempos que tinha feito Erasmus na China, o que já tinha soado a enorme aventura para uma jovem de 20 anos sozinha. Mas a experiência deve ter sido marcante, no bom sentido, uma vez que decidiu avançar agora de novo para a Ásia, num mesmo contexto profissional.
Acontece que a mãe, pouco depois de ela lá ter chegado, decide juntar-se-lhe. Motivos? Pois... eu julgo que entendo. As notícias eram algo inquietantes, por um lado; por outro, existia certamente muita vontade de partilhar com a filha esta exótica viagem. Na verdade (soube-o entretanto), uma vez na Índia, e penetrando no seu interior, foram várias vezes perseguidas pelos campos e pelas aldeias. Parece que queriam raptá-las, além de as roubar no que pudessem. Em fuga, recorreram já diversas vezes à polícia, embora muitas vezes tenha sido a aventura total. É que nos locais mais isolados nem polícia há. Entretanto, parece que estão a salvo destas peripécias. Porque surgiram outras...
Mochilas às costas, caminhando as duas por montes e vales, ora verdejantes, ora pedregosos, acontece a filha da minha amiga decidir avançar algo mais: até ao Nepal, passando pela mítica Kathmandu, mas seguindo rumo às montanhas...
Finalmente, agora, a minha amiga encontra-se num convento de monges budistas que lhe ofereceram estadia; enquanto a filha decide subir (escalar) uma montanha. Além dela, apenas um guia. Compreendo uma e outra, mas não posso deixar de pensar na minha própria filha. Há pouco tempo atrás, esteve também no topo de uma montanha, algures nos Alpes suiços. Mas a subida foi de teleférico, e várias pessoas a acompanhavam. No entanto, claro que me preocupei... Claro que não estava lá porque não podia... De qualquer modo, é preciso deixar os filhos, quais pássaros, bater asas e voar... Mas custa tanto!

Tenho pensado nisto: acho que se tivesse possibilidade, e a situação fosse igual... também eu ia atrás da minha filha, partilhar com ela a descoberta, e tentar protegê-la um pouco. Ainda que tivesse que correr eu própria os mesmos riscos. Mas, hoje, é quase inútil esperar para os filhos um futuro com os mesmos horizontes que foram os nossos. A nossa casa é cada vez mais global. E o longínquo está cada vez mais perto.

Imagens: pesquisa do Google

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

LHC: Large Hadron Collider

O maior instrumento científico do mundo é o LHC ou, em português, o Grande Colisor de Hadrões. Foi construído no CERN, ao qual Portugal pertence desde 1985. Finalmente, as experiências com o LHC tiveram o seu início. Polémicas, receios e grande expectativa rodearam este acontecimento. A acompanhar...



Para além do reacender da discussão entre teorias científicas (Big Bang) e teorias criacionistas, o LHC (com as experiências que proporcionará) trouxe consigo o receio de que a Terra e o sistema solar possam vir a ser sugados por um buraco negro, o qual seria gerado a partir da elevadíssima energia criada por este acelerador de partículas. Facto que tem vindo a ser desmentido.
De assinalar que este novo instrumento da ciência implicou uma despesa de 4 bilhões de euros. Trata-se de um enorme investimento na investigação científica, tendo em vista um conhecimento mais profundo da matéria, podendo vir a permitir uma série de aplicações (ainda mal conhecidas) consideradas úteis para a humanidade. O reflexo da crença no poder da ciência e da tecnologia para um futuro melhor.



Tudo indica que não vamos desaparecer para dentro de nenhum buraco negro. Os universos paralelos também continuarão a ser uma hipótese incógnita para nós. Mas talvez fiquemos a conhecer muito mais acerca da matéria. Muito do que agora não passa de mera ficção científica, pode vir a tornar-se realidade no futuro: viagens no tempo; outras dimensões do universo; teletransporte; etc...

Uma grande expectativa é a de chegar finalmente à descoberta da chamada "Partícula de Deus" ou bóson de Higgs. Será possível?! O passado mostra-nos: muito do que começa por ser impossível, torna-se depois possível. E o futuro dirá quais são os novos caminhos a que a ciência conduz...





Imagens: pesquisa do Google


terça-feira, 9 de setembro de 2008

Eterno Retorno - 2

Impossível pensar em eterno retorno sem aludir a Nietzsche e à sua crítica radical.
O que deve repetir-se sempre? O bom? O mau? Parece óbvio ser o bom. Mas qual o sentido desta terminologia? A radicalidade traz sempre consigo dúvidas, inquietações e interrogações. A filosofia de Nietzsche é verdadeiramente inquietante. Aceitem-se ou não os seus princípios filosóficos, é incontornável.

Alguém, um filósofo polémico mas inovador, esclarece de forma interessante e eloquente:




Aqui fica a sugestão: repetida...



quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Eterno retorno - 1


Aqui estou, sentada no meio de um ambiente super-electromagnetizado. Porque hoje é esse tipo de ar carregado que respiramos. Eu queria sentir o odor da terra molhada, depois da chuva, e que nos reconduz às origens. Hoje, é tão difícil encontrá-las, descobrir a sua metamorfose algures nos terraços dos altos edifícios, nas antenas, nos radares, nos satélites...
Sim, é a partir de um certo tempo de vida que se torna mais aguda a impressão do tempo: quando a vertiginosa queda nesse ciclo temporal, marcada no corpo e na mente, acontece conscientemente. Primeiro, tudo parece novo, diferente e original. Depois, mais tarde, verifica-se que a criação é rara, o mundo parece estar desde sempre dominado pela tarefa de recriar. Até ao ponto de repetir. Claro que nunca nada é exactamente igual. Mas se o mundo possui alguma consistência, ele replica-se a si mesmo. E isso é negativo? Talvez a resposta mais adequada seja bastante vulgar: é bom repetir o bom, e mau repetir o mau. Mas que garante se possui da bondade ou da maldade das coisas, dos actos, do mundo todo ele? Bom... eu podia dar uma resposta, recheada do que acho bem e do que acho mal. Sim, eu tenho ideias definidas. Mas também dúvidas. E é importante falar delas. Mas não hoje.
Porque é quando a atmosfera outonal começa a fazer parte dos dias, sobretudo se dando um ar de graça precoce, a luz já quebrada pelo encurtar dos dias; quando se retoma quase tudo o que já se retomou antes; acontece as ideias e as certezas ficarem mais claras. Não sei se devido ao facto de já "acendermos" mais a luz, a eléctrica, a que substitui a chamada luz natural, a do sol... a que nos reconduz às origens, e a outra, a que nos afastou delas... talvez por isso, fica tudo demasiado claro. Muitas vezes me interroguei como seria, por ex., viver na Idade Média, o mundo dominado pela escuridão, ansiosos pelo nascer do sol... o ar carregado ainda de magias...

Afinal... afinal... que peso ter algum saber (ou alguma idade)! Conseguir predizer o futuro, prever o que vem a seguir; e errar, por vezes, em tudo isso, tal como aconteceu a outros antes, também.
E o que mais pode animar um prenúncio de Outono, do que a certeza do erro?


Imagem daqui


terça-feira, 2 de setembro de 2008

Regressar


De volta ao trabalho: muito mais para pensar, muito mais para dizer, muito mais para fazer...



«Devemos aprender a despertar novamente e a manter-nos despertos, não com ajudas mecânicas mas com o infinito anseio pelo amanhecer, que não nos abandona nem no nosso sono mais profundo.»
Henry David Thoreau

Imagem: pesquisa do Google

Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...