sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A felicidade...

...está aqui



Ess vida sabe qu'nhôs ta vivê
Parodia dia e note manché
Sem maca ma cu sabura
Angola angola
Oi qu'povo sabe
Ami nhos ca ta matá-me
'M bem cu hora pa'me ba nha caminho
Ess convivência dess nhôs vivência
Paciência dum consequência
Resistência dum estravagância

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Do outro lado do espelho...?

«Na sua acepção mais corrente, o virtual opõe-se ao real, mas a sua repentina emergência, através das novas tecnologias, dá a impressão de que, acima de tudo, assinala o seu desaparecimento, o fim. Pela minha parte, como já o tenho dito, fazer despontar um mundo real é já produzi-lo e o real nunca foi mais do que uma forma de simulação. Podemos de facto dizer que existe um efeito de real, um efeito de verdade, um efeito de objectividade, mas em si mesmo o real não existe. O virtual não é então mais que uma hipérbole dessa tendência para passar do simbólico ao real - que é o grau zero. (...) A realidade virtual, a que seria perfeitamente homogeneizada, numerada, "operacionalizada", substitui-se à outra porque ela é perfeita, controlável e não contraditória. Assim, porque é mais "acabada", revela-se mais real do que o que estabelecemos como simulacro.(...)»


«Existe hoje um verdadeiro fascínio pelo virtual e por todas as suas tecnologias. Se é realmente uma forma de desaparecimento, isso seria uma escolha - obscura, mas deliberada - da própria espécie: a de se clonarem corpos e bens num outro universo, desaparecer enquanto espécie humana a bem dizer para se perpetuar numa espécie artificial que teria certos atributos mais conseguidos e ainda muito mais operacionais. (...)
Eu penso nessa fábula borgiana do povo que foi ostracizado e colocado do outro lado do espelho, e que já não é mais do que o reflexo do imperador a quem serviu. Seria esse o grande sistema do virtual e tudo o resto não passaria assim de certas espécies de clones, da rejeição e da abjecção. Mas na fábula esses povos começam a submeter-se cada vez menos ao seu dominador e um dia regressam do outro lado do espelho. (...)»



Excertos de: Jean Baudrillard, Palavras de Ordem

Imagem: Alice do Outro Lado do Espelho - pesquisa do Google

domingo, 17 de outubro de 2010

Cinema Francês

A minha 11ª Festa do Cinema Francês foi feita de dois filmes que vale a pena assinalar. Proximamente, deverão entrar nos circuitos comerciais.


O meu preferido, e de que gostei bastante, foi "Gainsbourg, vie héroïque" - um retrato da vida turbulenta de Serge Gainsbourg, personalidade tão genial quanto auto-destrutiva. O filme mistura ambientes realistas com um interessante universo onírico. O efeito é muito bem conseguido. São cerca de duas horas para recordar o carisma e, sobretudo, a música de Gainsbourg.


Trailer

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Quando hoje o tempo só pode ser de poesia


Ó mar azul meu actual paul
ó catedral de angústia ó pequena réstia
dessa feliz felicidade que sei que não há-de
haver sem eu correr o risco de a perder
(...)
Humano mesmo se demasiado humano
povoam-me cidades sossegadas
de sonhos que semeiam as semanas
onde só o silêncio é soberano
Dobra-se a brisa à mão do meio-dia
a fantasia é fértil em verdade
e do presente obscuro português
algum futuro há-de enfim nascer
Do salmo lúgubre da luz final do dia
que já há quatro séculos se entoa
hão-de rasgar a noite portuguesa
as raparigas da cidade de lisboa
E eu hei-de voar ao vento do momento
Dizias qualquer coisa? Esta manhã? Perfeitamente



Excertos do longo poema de Ruy Belo intitulado "Enganos e Desencontros" in O tempo das suaves raparigas e outros poemas de amor

Foto: A.P. 

sábado, 9 de outubro de 2010

Actualizações e cogitações

Quando dei por mim, reparei que o blogue estava muito fora de prazo! Portanto, devo dizer alguma coisa aqui. Devo, porque quero, claro. Numa só semana, o mundo deu tantas voltas. E eu também. Continuo sem perceber grande coisa de economia, de agências de rating, da especulação dos mercados, essa que nos condiciona, e etc... mas tenho lido por aí que paira sobre nós o "fantasma" do FMI. Depois, gosto de ouvir de vez em quando uns debates na TV para descontrair, embrenhada nos percursos argumentativos das elites políticas, intelectuais, e agora também, sobretudo, gosto de perder-me na argumentação dos nossos ilustres economistas. Por ex., ouvir o Dr. Medina Carreira dizer que vamos bater com a cabeça na parede... Ai, ai, "vamos bater"... Mas o Secretário-Geral da CGTP, Carvalho da Silva, diz que há solução. E há?! ... Ou ouvir os políticos dizerem todos mal uns dos outros, esmiuçando, dissecando e refutando o discurso de cada interlocutor. Claro, sabemos, tudo isto tem uma grande dimensão retórica. De dialéctica erística, como diria Schopenhauer - "a arte de disputar, e isto de tal forma que se tenha sempre razão, quer seja ou não o caso - per fas e nefas (por qualquer meio)". Também sabemos, e até concordo, as ideologias estão mortas. Acontece dar por mim a admirar-me com a estranha proximidade entre PSD e BE. Agora, o que manda, sim, e para o que tudo converge, é o capital. Mas isto soa algo marxista. E Marx está fora de moda, diz-se. Na verdade, não sei se Marx teria pensado neste novo capital, o capital virtual. Tenho que reler. Mas, não há lá muito tempo. É preciso trabalhar. De resto, de verdadeira economia, agora, é preciso ler outros, bem mais actuais, para estar "por dentro". Isto é importante, não esquecer, o mundo não pára, muito menos fica à nossa espera uns tempinhos.
Facto é, eu e muitos vamos ganhar menos, pagar mais, os tempos estão difíceis. O país precisa de nós e nós precisamos dele. Estamos indissoluvelmente ligados. É preciso trabalhar mais e mais. Eu ainda acredito em nós. Mas não nestas explicações, muito além da minha compreensão, ocupada que estou a trabalhar. Agora, ainda por cima, chove tanto... Há um abrupto confronto com a depressão outonal. Tudo parece convergir. E isto recorda-me o título de  um livro, título de que muito gosto, sem quase saber explicar o por quê (?) - "Tudo o que sobe deve convergir", é da Flannery O'Connor. Mas, aqui, agora, parece que é tudo o que desce que está a convergir (é uma ideia...). 
Falando em literatura, mais uma volta o mundo deu - foi atribuído o Prémio Nobel a Mario Vargas Llosa. Eu gosto de literatura e gosto da de Mario Vargas Llosa. É um justo prémio. Isto seria simples, se fosse possível criar uma literatura onde nada tivesse dimensão política. Acontece que isso não existe. De resto, o autor em causa é exemplo disso, e declaradamente. Mas rapidamente se identifica um autor com direitas e esquerdas. Essas mesmas que actualmente são tão flutuantes. É realmente estranho. Sobretudo porque todos deveriam estar de acordo acerca do necessário combate a todo o tipo de totalitarismos. Combate de que este recente laureado é um dos mais vivos exemplos. A sua arma, a escrita. Deveriam, digo eu... Mas eu percebo pouco de tantas coisas... Vou mas é ouvir uma musiquinha. 

A propósito, é de ler, porque eu não diria certamente melhor, este texto do RAA no Abencerragem

Bom fim-de-semana!




Regresso ao futuro

Muitas vezes, diz-se: nunca regresses a um lugar onde já foste feliz. Mas como não procurar todos os lugares que nos parecem compatíveis com...