É meia-noite e um quarto no relógio da Lapa.
(...) Os poetas, que amam em verso, são uns puros desinfectantes da pútrida impureza. Se todos fizéssemos versos, e nos amássemos em oitava rima, eu lhes asseguro que este globo era um viveiro de anjos. A teoria de Hobbes seria uma calúnia, e a de Malthus um absurdo. Não andaríamos travados em permanente luta, nem a exuberância da propagação assustaria os economistas. Havia só o risco de nos matar a fome; mas cada cisne teria um canto derradeiro com que esforçar a guerra à prosa que inventou os cereais, o boi cozido, as acções do banco, e a troca de um romance por quinhentos réis.
Isto ocorreu naturalmente da castidade da lua.
Era, pois, meia-noite e um quarto no relógio da Lapa, e fazia luar como de dia.
Camilo Castelo Branco, O Que Fazem Mulheres
6 comentários:
:))
Livro delicioso. Camilo no seu melhor.
JR
O nosso eterno Camilo
um abraço, Vasco :))
Concordo, José Ricardo: delicioso!
...alguns são eternos, felizmente, Mar Arável!
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