É indiscutivelmente gerador de polémicas. Controverso e surpreendente. Tido por alguns como inconsistente. Tem a visão provocadora de um psicanalista do século XXI. Criador de uma filosofia ecléctica e inovadora.
Se nos parece estranho, não deixa de nos oferecer momentos de genial lucidez. Se nos parece irreal, consegue levar-nos a pensar a hiperrealidade como uma nova face do real. Quais as consequências?
" (...) hoje, a nossa percepção da realidade é mediada pelas manipulações estetizadas dos media de tal maneira que já não nos é possível distinguir a realidade da sua imagem mediática: a própria realidade é experimentada como espectáculo estético. As explosões de violência irracional devem ser entendidas neste quadro: como tentativas desesperadas de estabelecer uma diferença entre a ficção e a realidade através de uma passagem ao acto - ou seja, de atravessar a teia de aranha da pseudo-realidade estetizada e de alcançar a dura realidade. (...)
O problema dos media contemporâneos não consiste na sua capacidade de nos fazerem confundir a ficção com a realidade, mas antes no seu carácter «hiperrealista», por intermédio do qual saturam o vazio que mantém aberto o espaço para a ficção simbólica. A ordem simbólica só pode funcionar mantendo uma distância mínima em relação à realidade, graças à qual possui, em última análise, o estatuto de uma ficção. Basta que lembremos aqui a ansiedade que emerge quando as nossas palavras se realizam «à letra». (...) Quando, por exemplo, um empregado de hotel me cumprimenta com um «Como está hoje, o senhor?», a melhor maneira de lhe causar surpresa é levar a sua pergunta a sério e responder-lhe («De facto, tive um dia mau. Primeiro, uma enxaqueca terrível da parte da manhã. Depois...). (...)
O que é que se produz, então, quando esta hipertrofia imaginária satura o espaço para a ficção simbólica?(...) A consequência necessária da proximidade excessiva de a a respeito da realidade, sufocando a actividade da ficção simbólica, é, portanto, uma «des-realização» da própria realidade: a realidade já não é estruturada por intermédio de ficções simbólicas; as fantasias que regem a hipertrofia imaginária intervêm nela directamente. E é então que a violência entra em cena, sob a forma da passagem ao acto psicótica."
Slavoj Zizek, "A Guerra das Fantasias" in As Metástases do Gozo
É esta passagem ao acto pela violência, algo inevitável, hoje? O fenómeno é complexo, mas é esta a questão que não se pode deixar de colocar; para a qual são urgentes respostas que contribuam para uma auto-compreensão das sociedades actuais.
Discutível, e ainda bem, a nossa radical interpelação é um traço característico de Slavoj Zizek.
Ainda há tempo para a imaginação e espaço para a ficção simbólica?
Ainda há tempo para a imaginação e espaço para a ficção simbólica?
Resposta de Zizek: