Devemos entender sempre a Assembleia da República como um lugar digno do maior respeito. Afinal, é onde trabalham aqueles que escolhemos para nos representarem à frente do destino do país.
Assistir a uma sessão parlamentar é um momento privilegiado para qualquer cidadão. Pelo menos, deveria sê-lo. Privar os cidadãos desse direito parece-me de enorme gravidade face ao ambiente de liberdade que é característico de uma democracia. Muito grave mesmo e até como remota hipótese. Pelo menos tão grave quanto o desrespeito pelos deputados no seu local de trabalho.
Obviamente, não apoio nem participaria num acto de contestação e indignação como aquele que aconteceu ontem nas galerias da Assembleia da República. É preciso pôr a tónica neste ponto do sucedido. Há outras formas de contestação muito mais eficazes, mas provavelmente dão muito mais trabalho e produzem resultados mais lentos. Ressalve-se, no entanto, ter sido este momento de manifestação um acontecimento de carácter pacífico. Coisas assim perturbam? Claro que sim. Mas a perturbação tem sobretudo outras origens... é preciso não esquecer. Na verdade, há um estado de perturbação instalado no país. Afinal, há muita gente perturbada.
Posto isto acerca do caso, o qual me parece incidir sobre muitas questões, mas em particular sobre questões disciplinares, às quais sou particularmente sensível; assim sendo, dizia, considero excessiva a reacção da Presidente da Assembleia da República ao acontecimento a que nos referimos. Citar filósofos/as fica sempre bem e eu gosto. Agora, chamar carrasco ao povo português aludindo ainda que por efeito colateral ao nazismo, parece-me não só resultado de citações levianas, como insultuoso e, consequentemente, perturbador.
Verdade, verdadinha, é que a situação do país já anda a deixar muita gente à beira de um ataque de nervos. Afinal, como interiorizar a vivência deste irromper de uma espécie de "democracia à força"?! Se a perturbação já se introduz na fleuma de figuras de alta responsabilidade representativa, como não entender a perturbação dos pobres representados?!
Eu própria não me sinto lá muito bem...