Somerset Maugham na sua casa em Cap Ferrat, França (1963) |
Julian Barnes refere no seu último livro (de 2008), «Nada a Temer», uma curiosa história que terá tido como ilustres protagonistas, o escritor Somerset Maugham e o filósofo A. J. Ayer. O que está em causa é o seguinte: enquanto agnóstico, S. Maugham queria, contudo, assegurar-se de que a sua posição perante a hipótese divina era a mais acertada. Assim sendo, convida para sua casa Ayer, pensador influente à época, para confirmar com ele que nada poderia estar errado na sua opção quanto a esta questão; que nada, mas mesmo rigorosamente nada, se seguiria à morte. Evidentemente, Maugham pensava já na velhice e na proximidade do seu próprio fim. E é assim que Ayer e a sua mulher, a romancista Dee Wells, vêm a fazer uma visita ao escritor, corria o ano de 1961. Barnes procura reconstituir este encontro sui generis, imaginando o diálogo entre os dois, já que, como assinala, não existem registos concretos e conhecidos dessas presumíveis conversas. Seguramente, Ayer terá apresentado as provas mais up to date e lógicas da não existência de Deus, assim como da finitude da vida. O que terá, certamente, tranquilizado Maugham.
O mais interessante de tudo isto... é a necessidade de certezas (sempre incertas) que todos sentem. Crentes e não crentes, provavelmente todos se interrogam, todos duvidam. Talvez alguns escapem a essa inquietação. É possível, talvez até seja desejável. Mas, mais interessante ainda, é aquilo que Julian Barnes não deixa escapar na análise radical que faz da psicologia humana - este caso, o de posições religiosas, não será diferente de outra matéria qualquer: aqueles que têm um certo poder e influência, como era o caso de Maugham, tendem a comportar-se exactamente sempre da mesma maneira, ou seja, como quem domina a situação. Tal como em tempos, príncipes e burgueses chamavam quem os tranquilizasse acerca do Paraíso, S. Maugham fez o mesmo, ao contrário. Parece, pois, que o labirinto da mente humana tem poucas saídas alternativas... se é que existem algumas. A única saída que parece oferecer tranquilidade é jogar a vida com redes de protecção. Infelizmente, ou não, elas estão cheias de buracos.