Esta imagem representa (digo-o simplificadamente) a comunicação existente entre neurónios. O neurónio-emissor e o neurónio-receptor comunicam entre si (sem contacto directo), com o precioso auxílio dos chamados neurotransmissores. Assinalo este fenómeno porque julgo residir nele aquilo que podemos designar por
"magia". Parece
"magia". Porque é absolutamente fantástico e maravilhoso. E é o que ocorre no nosso cérebro constantemente, sem darmos conta.
Talvez esta pequena introdução, ou preâmbulo, consiga mostrar alguma da minha admiração pelo cérebro humano, assim como o meu maior respeito por quem se dedica a estudá-lo. É por isso que me congratulo pelo facto de
António Damásio ter sido recentemente convidado para um programa de televisão (
Grande Entrevista na RTP-1), em horário nobre (no dia 02/04/09). Considerando essa enorme admiração que sinto pelo seu trabalho ( ao ponto de em tempos ter criado um blogue que pretendia prestar-lhe homenagem, intitulado
Marcador Somático - infelizmente não disponho de tempo suficiente para desenvolver essa ideia com o rigor que exige); considerando, portanto, o meu interesse, curiosidade e admiração (repito) por este neurocientista português; por tudo isto, não poderia deixar passar aqui em branco a sua presença em Portugal, e a sua comunicação mediaticamente disponível ao grande público.
Um dos seus maiores méritos, além dos que são por demais evidentes, é o da divulgação científica que tem feito, de forma acessível à maioria, com os seus livros:
O Erro de Descartes;
O Sentimento de Si;
Ao Encontro de Espinosa.
Nesta entrevista a que me refiro, Damásio avança alguns dados mais recentes sobre o estudo do cérebro e antecipa o futuro das neurociências e sua aplicação. Relembrando o funcionamento integrado do nosso cérebro, no qual razão e emoção não existem separadamente, mas sim como um todo - a razão informada pelos dados emocionais e a emoção como uma forma importantíssima de inteligência; esta noção que se traduz na superação do chamado
Erro de Descartes, dá-nos uma nova perspectiva acerca de nós próprios: do modo como a nossa vida mental possui um fundamento biológico, aperfeiçoada no sentido de uma crescente complexidade, ao longo do nosso percurso evolutivo...
Damásio assinalou ainda a forte
"programação" social do nosso cérebro: somos seres que vivem em comunidade há muito tempo. Também nos entreabre uma porta para o futuro, o qual, numa perspectiva que encerra um possível optimismo e alguma esperança, poderá ser o de evoluirmos no sentido da busca do bem-estar, dado que não somos seres que se
contentem apenas com a sobrevivência. Espero sinceramente que venha a ser assim...
Um dos campos que nos cria maiores expectativas, com base nas investigações das neurociências, é o da memória. Todos queremos recordar-nos rapidamente, e sempre, de muitas e muitas coisas, mas... com o passar do tempo, a memória tende a falhar. Pois o futuro apresenta-se com a possibilidade de tudo isso ser ultrapassado com uma espécie de
"pílula da memória". Virá de facto a existir?! Tudo parece indicar que sim.
Focou igualmente a problemática do chamado
stress emocional: possuímos um cérebro mais lento e um cérebro mais rápido; o primeiro é emocional; o outro processa informação. O problema do
stress pode residir precisamente neste desfasamento entre ambos: o emocional não tem tempo de gerar as emoções correspondentes à informação total que o outro processa. De notar o caso das imagens que assimilamos rapidamente, mas acerca das quais não há tempo para sentir as emoções que produziriam num mundo onde se vivesse mais devagar.
Finalmente, é de reter o que nos adiantou em relação aos tratamentos futuros para os estados depressivos: intervenções cirúrgicas realizadas com grande precisão, proporcionadas pelo conhecimento muito mais rigoroso e exacto do cérebro, como é o de que actualmente dispomos (em grande medida, graças às chamadas técnicas de imagiologia cerebral), a aprofundar e a aperfeiçoar no futuro. Nesta área, muitos apresentam reservas, atendendo aos fantasmas das lobotomias praticadas no passado. No entanto, os tratamentos com fármacos continuarão a ser válidos e utilizados.
A possibilidade, também ela algo
"mágica", de eliminar a tristeza, parece-nos uma irrealidade. A ser verdadeira, de facto, coloca questões importantes e exige reflexão e debate, certamente, dada a necessidade de regular seriamente este tipo (e outros) de intervenção. É o futuro da Humanidade que está em causa. As neurociências mostram-nos um caminho. Como mantê-lo ao serviço do bem-estar de todos os seres humanos?
Um último aspecto que me pareceu deveras interessante nesta sua entrevista: segundo ele, o que de melhor possui para o desenvolvimento das suas investigações, nos EUA, é a partilha com outros investigadores, o trabalho em equipa, o gosto e a curiosidade em comum, assim como o crescente desejo de avançar, ainda que muito pouco de cada vez, no conhecimento do cérebro humano.
Vídeo da entrevista - RTP-1 AQUI
Imagens: pesquisa do Google